Nos dias 10 e 11 de novembro, o Instituto COURB realizou na cidade de Curitiba o I Encontro de Urbanismo Colaborativo. Antes deste encontro, éramos 150 sonhadores, de 13 estados brasileiros, com um objetivo em comum: compartilhar ideias sobre como construir cidades mais democráticas, através da colaboração entre todos os atores sociais, e também ouvir relatos de quem já está colocando a mão na massa.

Ao longo dos dois dias de evento, 03 palestras, 03 painéis, 05 oficinas e os 15 projetos finalistas da Mostra ajudaram a conectar os “sonhos solitários” e costurá-los em um grande sonho coletivo, ou seja: em realidade. Nesse post, vamos compartilhar com vocês um pouco das principais atividades que aconteceram e ajudaram nessa construção colaborativa.

Palestras

As três palestras foram baseadas na experiência prática dos nossos convidados e inspiraram os participantes do Encontro.

A primeira,  “Que futuro queremos para as nossas cidades?”, foi ministrada por Clarisse Linke, do ITDP Brasil, e abordou questões da mobilidade ativa. Para abrir o segundo dia do evento, Lígia Melo, diretora do  Instituto Brasileiro de Direito Urbanístico (IBDU), abordou “O direito fundamental à cidade”, esclarecendo diferenças entre o “direito à cidade” e a “cidade para todos”, contextualizando ambos os conceitos e estabelecendo um diálogo com os participantes sobre o tema. Na tarde do segundo dia, a palestra “Urbanismo Caminhável”, realizada por  Lincoln Paiva, do Green Mobility, inspirou os participantes com a apresentação de exemplos de como nossas cidades podem ser mais ativas, vivas e humanas.

Mostra de Projetos

Foram selecionados 15 projetos de todo o Brasil para comporem a I Mostra de Projetos de Urbanismo Colaborativo. Os projetos foram expostos durante o evento, divididos em duas categorias: I – Ação Urbana e II – Conscientização e Formação Cidadã. Ao longo do Encontro, todos os participantes puderam votar nos projetos destaques em cada categoria para que, ao final do evento, os escolhidos fossem apresentados ao público e premiados com um apoio financeiro do Instituto COURB.

Na categoria I – Ação Urbana, com uma diferença mínima de votos, o projeto contemplado foi o Casa Fora de Casa, desenvolvido pelo SobreUrbana, de Goiânia. Na categoria II – Ação Urbana, o projeto escolhido foi o Caminhada da Joaninha, realizado pelo Coletivo MOB, de Brasília.

Painéis

No primeiro painel do Encontro, houve compartilhamento de experiências em engajamento comunitário, tanto da perspectiva do terceiro setor, como também da sociedade civil e do poder público.

A mesa foi moderada pelo Diretor de Engajamento Comunitário, Bruno Ávila, e contou com a presença de Ana Destri, professora de Educação Física de Florianópolis, que apresentou o Bicicleta Na Escola, projeto que promove a mobilidade por bicicleta entre crianças da rede municipal de ensino;  do arquiteto e ativista Gabriel Gallarza, que contou a história da construção colaborativa da Praça de Bolso do Ciclista, em Curitiba; do urbanista Miguel Roguski, coordenador técnico do Plano Diretor de Curitiba, que apresentou metodologias de engajamento da comunidade no processo de planejamento; e dos arquitetos Luiz Sarmento e Lucélia Duda, que apresentaram a experiência da CodHAB/DF com assistência técnica a comunidades e mutirões.

O segundo painel teve como objetivo a discussão e o debate em torno da humanização das cidades. A mesa foi moderada pelo Presidente do COURB, Germano Johansson, e tinha também Carlos Cioce, Professor da Pós Graduação em Gestão Urbana da PUC-PR, Luana Matsumoto, da Coletiva Maria Sem Vergonha, Daniely Votto, Gerente de Governança Urbana do World Resources Institute, e Lincoln Paiva, do Instituto Mobilidade Verde.

A conversa teve início com uma breve apresentação de todos os participantes sobre a forma como o trabalho de cada um se relacionava com o tema. Ao fim das apresentações, o moderador trouxe para o debate indagações sobre como ir além das intervenções físicas para integrar e humanizar as cidades, e todos os participantes trouxeram suas ponderações e pontos de vista.  Informação, democratização de oportunidades, educação e questões relacionadas à gênero foram alguns dos pontos trazidos pelos convidados.

O debate foi concluído com uma rodada de perguntas dos participantes do evento.

O terceiro painel teve como objetivo a discussão sobre a dificuldade em catalisar engajamento, participação, e inclusão em meio a tantos conflitos dentro da nossa sociedade.

Moderada por Débora Rocha, arquiteta mestre em Democracia Participativa, República e Movimentos Sociais, a roda contou com os convidados Claudia Pfeiffer, Socióloga, doutora em planejamento urbano e professora da UFRJ, Joshua Shake,  planejador urbano pela University of Michigan  e realizando doutorado na USP,  Eneida Desiree,  doutora em  Direito e professora de Direito Constitucional na UFPR e da Arquiteta Monica Máximo, do Instituto de Planejamento Urbano de Curitiba (IPPUC).

Após uma breve apresentação sobre a atuação de cada convidado, ocorreu uma rica discussão pautada em perspectivas sobre política e democracia, desafios sociais e urbanos.  Dentre os diversos pontos refletidos, chegou-se à concordância de que enquanto temos uma sociedade excludente, não teremos uma cidade inclusiva; que o diálogo com as diferenças e a consciência política são fundamentais e que para atingirmos uma democracia política, uma democracia econômica se faz necessária.

oficinas

A oficina foi ministrada por Joshua Shake, doutorando da USP, e Maria Elisa Mercer, urbanista com anos de experiência em charretes e metodologias participativas. Eles apresentaram uma metodologia de planejamento urbano colaborativo a partir do caso da Comunidade Caximba, localizada nas bordas da cidade de Curitiba.

O grupo era composto de cerca de 30 pessoas, entre estudantes, líderes comunitários, arquitetos, urbanistas de diversas regiões do Brasil. Primeiramente, todos apresentaram um pouco sobre sua experiência profissional.

Logo após, formou-se quatro grupos munidos de plantas e materiais de desenho a fim de desenvolver uma metodologia de participação. Posteriormente, todos compartilharam suas conclusões e projetos.

Ministrada em conjunto por Clarisse Linke (ITDP Brasil), Patrícia Valverde (Bicicletaria Cultural), e Ana Destri (Bicicleta na Escola), a oficina contou com 18 participantes, representando as regiões Sul, Sudeste, Centro Oeste e Nordeste do Brasil.

As convidadas trouxeram para o debate desafios relacionados aos seus trabalhos, visando catalisar o interesse dos participantes em debater e buscar soluções para o tema.

Dentre os desafios discutidos entre os participantes, os mais debatidos foram: formas de aumentar o engajamento para o Projeto Bicicleta na Escola e torná-lo replicável em outras cidades do Brasil, e também foi discutida a estruturação de um grupo de atuação que una os setores público, privados, acadêmicos e da sociedade civil de Curitiba para auxiliar na problemática da Praça de Bolso, no centro de Curitiba.  

A oficina foi concebida colaborativamente pelo escritório de arquitetura de Florianópolis Bloco B e o pelo Coletivo MOB, de Brasilia. Nela, os mais de 20 participantes foram estimulados a enxergar a cidade como um grande playground, extrapolando a apropriação funcional de elementos urbanos tradicionais.

A partir da técnica do estêncil, o objetivo final era propor um protótipo de brincadeira que instigasse transeuntes, moradores, comerciantes e os próprios participantes a olhar para aquele espaço de intervenção de uma maneira diferente do que estavam habituados.

Após a apresentação da oficina, os participantes se apresentaram e formaram três grupos de trabalho. Um reconhecimento à pé dos arredores da Praça de Bolso foi realizado e, em seguida, os grupos começaram a discutir e produzir suas propostas. A roda final de compartilhamento de ideias foi muito frutífera, abordando desde as propostas de intervenção ao próprio questionamento sobre a legitimidade da atividade.

Por fim, como a oficina contou com participantes de diversas regiões do Brasil, foi lançada a proposta da realização de um mapa colaborativo de intervenções, cada um em sua cidade. Fotos da atividade serão compartilhadas usando a hashtag #intervém?.

Maristela Rodrigues –  idealizadora da página Arquitêta –  e o grupo de urban sketch US.Coffee se uniram para introduzir os participantes da oficina ao mundo do desenho à mão livre. Amantes do sketching, os membros do US.Coffee (que se reúnem nos mais variados cafés de Curitiba) abriram a sessão contando um pouco da história do grupo.

A oficina contou com temas importantes para a idealização e construção do traço, indo do nanquim ao acabamento com aquarela. Dentre as diversas e valorosas discussões, a conclusão da importância dos espaços de vivência para uma sociedade socialmente sustentável, solidária e acessível – a partir de um olhar atento ao centro urbano.

O partilhamento dos moleskines de desenho das urban sketchers serviu de combustível ao espírito criativo do dia. Os participantes saíram pelo Largo da Ordem escolhendo pontos para representação, tendo a experiência única de, então, capturar a sensação de desenhar ao ar livre (mesmo em meio à vida na cidade) e passá-la ao papel.

Esta oficina foi proposta pelo Atelier da Rua, de Curitiba, com apoio do Ateliê URBE, de Florianópolis. Com o objetivo de estabelecer uma conexão entre cada participante e a sua percepção da cidade, a interAÇÃO tornou os participantes capazes de construir uma intervenção urbana coletivamente, a partir de materiais que comumente seriam descartados ou reciclados.

Em um primeiro momento, abriu-se uma roda de discussão para que todos compartilhassem sua percepção individual da cidade a partir do caminho percorrido. Posteriormente, os participantes foram convidados a traçar um percurso específico da cidade, vivenciando-a, a fim de elaborar um mapa mental.  Essa primeira parte foi imprescindível para despertar um sentido de pertencimento, e, desta forma, fazer com que os participantes se sentissem apropriados pela cidade o suficiente para elaborar a intervenção.

A construção da intervenção partiu do desejo de inserir no meio urbano um objeto que pudesse despertar nos passantes a vontade de compartilhar sua percepção sobre a cidade.  Munidos de martelo, cordão, moldura, partes de bicicleta e pedaço de cadeira, nasceu o Mural da Cidade. Com a intervenção construída, foi possível perceber que, de fato, alguns passantes se apropriaram da intervenção e utilizaram o mural da cidade para contemplar, ou até mesmo para serem ouvidos, não deixar a voz calar.