O Encontro é realizado todos os anos e de maneira itinerante pelo território nacional, com o objetivo de levar a discussão sobre Urbanismo Colaborativo a todas as regiões do Brasil. Sua primeira edição foi em 2016, na região sul do país, em Curitiba-PR. Em 2017, o 2º Encontro aconteceu na cidade de Brasília, no Centro-Oeste. Este ano, foi a vez do Nordeste, na cidade de Fortaleza-CE, entre os dias 11 a 14 de novembro.
A 3ª edição do Encontro trouxe a questão “Como construir cidades colaborativamente?”, abordou questões urbanas e sociais de Fortaleza e outras cidades do Brasil com uma perspectiva ampla de várias esferas da sociedade e com especial atenção às questões de disputa de território e enfrentamento às desigualdades sociais. Entre participantes e convidados, estiveram presentes organizações de todas as regiões do Brasil.
3ª edição foi cheia de novidades e muito mais colaboração
O 3º Encontro foi o primeiro realizada pelo Instituto COURB em conjunto com uma organização local. A parceria com o Coletivo A-braço (representado por Alana Aragão, Mariana Oliveira e José Otávio Braga) e a estudante de arquitetura e coordenadora do Projeto Jovens Líderes, Mariana Saraiva, foi firmada ainda no 2º Encontro, com o desejo de levar a discussão sobre Urbanismo Colaborativo ao Nordeste do país, promover a ampliação da rede e entrar em contato com a realidade local desta parte do país. A maioria da programação do evento foi realizada na Universidade de Fortaleza (UNIFOR), e contou com vivências e momentos de confraternizações por toda a cidade.
DIA 1: Perspectivas Holísticas da Cidade e Ferramentas para Colaborar
O primeiro dia da programação oficial começou com a mesa de abertura, em que estiveram presentes além dos organizadores, a arquiteta Camila Girão, coordenadora do curso de arquitetura da UNIFOR e Lígia Melo, do Instituto Brasileiro de Direito Urbanístico (IBDU), pela segunda vez um importante patrocinador do evento. Em seguida, o arquiteto Caio Vassão ministrou uma palestra que abordou o metadesign para impacto social com foco nos processos colaborativos, desconstruindo muitos conceitos e mostrando a necessidade de mudanças estruturais para atingirmos resultados expressivos na reconstrução das dinâmicas sociais.
Ainda na parte da manhã, o primeiro painel de debate abordou A cidade como produto e condição dos processos sociais, com um enfoque na cidade de Fortaleza, mas trazendo também experiências de resistência à especulação imobiliária no Recife, com Edinéa Alcântara mostrando a atuação do movimento Ocupe Estelita. O painel foi aberto por Lia Parente, do Instituto de Planejamento de Fortaleza, apresentando dados que embasaram o plano de desenvolvimento Fortaleza 2040, tais como o índice de mortalidade de jovens e a disparidade nos IDHs da cidade. Foi apontado que muitos dos piores índices coincidem com as ZEIS (Zonas Especiais de Interesse Social), as quais constam do plano piloto mas hoje enfrentam diversos desafios em sua implementação para garantir moradia e o direito à cidade aos seus habitantes., Este contexto foi reforçado e detalhado nas falas de Adriana Geronimo, líder comunitária e moradora engajada do Lagamar, e de Valéria Pinheiro, do LEHAB. Ambas trouxeram as problemáticas de priorização de recursos como um eixo central.
A tarde deste primeiro dia foi dedicada às oficinas. Nesta edição foram nove opções de capacitação diferenciadas que trouxeram ferramentas e experiências de atuações de vários segmentos profissionais que interagem nas dinâmicas urbanas:
Duas oficinas trataram de aspectos de direito à cidade: Diálogos entre o direito e o urbanismo pelo direito à cidade liderado por Ligia Melo, do IBDU, e com a presença de advogados de Fortaleza que lidam com a temática; e Debate sobre regularização fundiária em áreas urbanas, ministrada por Ana Virgínia Elias Pinho, da TERRACAP (Brasília-DF).
Na oficina Mapeamento colaborativo e QGIS, Aluizio Marino, da UFABC e LabCidade-USP, trouxe a importância da cartografia social e apresentou técnicas de mapeamento e dicas de novos softwares e plataformas.
Trazendo ferramentas lúdicas que auxiliam processos colaborativos e de participação tivemos as atividades Gera! Oficina de Jogo de tabuleiro (Michaela Faria FAU/Nagila Frota – UFC), RAP na escola: Uma experiência de pedagogia urbana (Caroline Nogueira/João Victor Araujo – Periféricos UnB) e Jogo Oasis: Metodologia colaborativa (Natasha Gabriel/Instituto Elos) e Jogo da participação da prefeitura de Helsinki (José Otávio/Coletivo A-braço).
Mariana Wandarti (Cidade Ativa) apresentou as experiências da ONG na oficina Metodologias de cocriação para projetos em espaços públicos e levou os participantes para testar algumas das metodologias em áreas do entorno da UNIFOR.
Por fim, Mariana Morais (COURB) ministrou a oficina Design de Serviços e Participação no Governo, que possibilitou que os participantes cocriassem soluções para serviços públicos na área de mobilidade e participação social, a partir das metodologias de design.
DIA 2: Muitas Trocas e um Importante Passo para o Urbanismo Colaborativo
A Mostra de Projetos sempre é um dos momentos mais esperados do evento, por trazer experiências colaborativas de todo país e grupos engajados da sociedade civil, academia, empresas, terceiro setor e poder público, sendo um momento de troca ímpar onde é possível conhecer realidades, dificuldades e atuações em diversas cidades brasileiras.
Nesta 3ª edição, os 24 projetos presentes puderam realizar uma apresentação oral de 3 minutos no palco do auditório principal antes da sessão de pôster. Esta novidade foi resultado do feedback dos participantes de outras edições, para que todos tivessem a oportunidade de saber mais de cada projeto antes do momento de troca principal, ao ar livre. Para saber mais sobre cada projeto, saiba mais neste post.
O segundo painel de debate do evento abriu a tarde e foi um momento dedicado a exemplos de atuação de organizações que usam a colaboração como estratégia de enfrentamento aos desafios urbanos.
Aluísio Marinho, do LabCidade (USP), abriu o painel contando suas experiências de cartografia urbana em regiões de grande vulnerabilidade social, como a Cracolândia, em São Paulo-SP. Em seguida, Natasha Gabriel, do Instituto Elos, apresentou as conquistas comunitárias que as aplicações do jogo Oásis trouxeram para uma comunidade tradicional de pescadores em Santos/SP, entre outros exemplos. A colaboração dentro da esfera pública também foi abordada neste painel com a exposição da Isabelly Egot, da Vetor Brasil, que apontou como os trainees da Vetor tem esta missão e o que estão conquistando em termos de melhorias no trabalho em rede que exercem. Antes de abrir para a a discussão com o público, Beatriz Rodrigues, da iniciativa Bloomberg para Segurança Viária, falar um pouco sobre a experiência de cooperação com a Prefeitura de Fortaleza, que já rendeu projetos de intervenção como o realizado na área do Dragão do Mar.
Na sequência, houve um momento muita importante para os futuros passos do Urbanismo Colaborativo no Brasil: a aclamação do Manifesto de Urbanismo Colaborativo, desenvolvido em uma força tarefa composta por organizações que atuam em cidades de todo o Brasil. São cossignatários deste documento: Instituto a Cidade Precisa de você (São Paulo/SP), Laboratório da Cidade (Belém/PA), TranslabURB (Porto Alegre/RS), MOB (Brasília/DF), INCITI (Recife/PE), IAB/PB, ELOS (Santos/SP), Massapê (Recife/PE), São Paulo Lab, Cidade Ativa (São Paulo/SP) e Coletivo A-braço (Fortaleza/CE). No Encontro houve a discussão sobre os desafios enfrentados nesta agenda e quais podem ser as estratégias para uma incidência política efetiva. Em 2019, o GT que co-construiu o documento se reunirá, agora para pensar em um plano de ação nacional.
De espectadores a protagonistas: dia de mão na massa e vivências na cidade
Experimentar novos processos e aprendizados nas vivências e explorar a cidade: este foi o tom do último dia do Encontro. Na quarta-feira os participantes puderam escolher uma entre quatro atividades disponíveis. Duas no Centro da cidade: o Free walking tour guiado por Larissa Muniz, que caminhou com o grupo apontando características culturais e históricas de Fortaleza; e o Plano de Desenvolvimento do Bairro, guiado por Rebeca Froes de Assis, da UNIFOR, que através de uma caminhada e observações no Centro propôs uma discussão sobre os limites do bairro sob diferentes perspectivas. A terceira atividade foi a vivência do projeto Reciclart, na Prainha, liderada pela comunidade, que promoveu uma aula sobre confecção de mobiliários utilizando pneus – uma prática sustentável muito utilizada em praças requalificadas colaborativamente. Por fim, houve também uma atividade na UNIFOR que abordou aspectos teóricos e práticos das Políticas Públicas e Planejamento de Ciclomobilidade, ministrada por Guilherme Tampieri, com apoio da UCB.
Confirmado: em 2019 a edição será na Região Norte!
Mais uma vez o encontro proporcionou momentos de muita reflexão e aprendizado, de recarregar as energias para mais um ano de trabalho e de aumentar a rede de urbanismo colaborativo atuante em todo o Brasil. Assim como na 2ª edição, firmamos já uma nova parceria para o 4º Encontro: o Laboratório da Cidade será nosso colaborador para levar pela primeira vez o evento à região Norte do Brasil, em Belém-PA! Aguardem notícias!
Agradecemos a todos os participantes, convidados, oficineiros, organizadores e parceiros pela confiança e participação intensa! Esperamos encontrá-los novamente em 2019! 🙂